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domingo, 28 de julho de 2013

O que determina a Performance de um atleta cadeirante? Você sabe? Parte 1!

Os atletas brasileiros vem tendo grande sucesso nas Paralimpíadas e perguntas sobre a performance destes não param de crescer. Algumas destas perguntas tem dado inicio à estudos científicos em diversas universidades brasileiras e do exterior. Quais respostas se tem até o momento?


É, realmente as perguntas são muitas e as respostas ainda poucas! Mas, algumas luzes tem sido encontradas no dia a dia destes atletas. Já existe, por exemplo, uma revisão de literatura (estudo que sistematicamente sintetiza vários outros) sobre a Fisiologia do atleta cadeirante (Physiology of Wheelchair Racing inAthletes with Spinal Cord Injury), que por conta dos autores e dos estudos utilizados falam essencialmente de atletas com lesão medular e que praticam modalidades esportivas cíclicas (que tem movimentos cíclicos, como o atletismo, o ciclismo e natação). 

No Brasil, nossas seleções destas modalidades tem poucos atletas com lesão medular, e nossos cadeirantes, em sua maioria, tiveram poliomielite na infância. Isso indica que o maravilhoso estudo que citei pouco serve para nossos atletas. Mas, e agora?

Agora é colocar a cabeça para pensar e repensar e tentar encontrar respostas para nossos atletas! 

Durante minha participação como Fisiologista da Seleção Brasileira de Para-atletismo que durou 2 anos (2010-2012) procurei testar algumas metodologias já conhecidas, mas ajustada a realidade dos meus ex-atletas. Um dia realizamos um teste de Wingate (teste anaeróbio de 30s consagrado na literatura) em um atleta cadeirante e encontramos que ele alcançou 502 w de Potência Pico, que está relacionada a Potência Anaeróbia do atleta e mostra o quanto ele pode ser rápido/potente com os membros superiores no caso (tabela abaixo).
Fizemos também um teste de salto adaptado, buscando entender melhor a potência dos membros superiores do atleta e pasmem, estava próximo de alguns atletas "andantes" do grupo, dada a grande potência dos atletas cadeirantes no membro superior.


Ainda assim, fiquei pensando sobre outras possibilidades de avaliar o atleta e diagnosticar melhor sua condição física, ai nos reportamos a 2 instrumentos, um ergômetro de cadeira de rodas (Modelo  VPHandisport  da TECMACHINE, França que Permite ajustar o ângulo das rodas – 0-25º), muito interessante e que nos auxiliou a diagnosticar o VO2max do atleta e entender melhor também sua aplicação de força nas rodas de sua cadeira, já que o equipamento tem um medidor de potência em cada um dos lados. 

 Mas o protocolo que mais nos ajudou a entender o que faltava ao atleta foi um procedimento simples, que envolve o Arremesso de Medicine Ball (aquelas bolas com pesos de 1-5kg), que nos ajudou a diagnosticar uma diferença na força entre os membros do atleta (como mostrado abaixo).
Ou seja, não adiantava ele produzir grande potência no Wingate, ter um grande salto na Plataforma de Contato, ter um grande VO2max no ergômetro, se existia diferença na força entre os membros, o que conseguimos diagnosticar e foi como sugestão de melhora para o técnico do atleta, que posteriormente teve grandes resultados.

É difícil falar sobre o rendimento destes atletas, dada a complexidade do esporte paralímpico, mas a gente segue pensando e repensando estas coisas para tentar encontrar alguns caminhos possíveis. 

Parte deste artigo foi apresentado por mim na Mesa Redonda: Avaliação Física no Esporte Paraolímpico do II Congresso Paraolímpico Brasileiro e I Congresso Paradesportivo Internacional, realizado entre os dias 26 a 29 de Outubro de 2011, na Universidade Federal de Uberlândia. 

Em breve falo dos atletas velocistas andantes, que tiveram grandes resultados ultimamente e já encontramos dados interessantes sobre eles.

Prof Dr Gerson Leite
Fisiologista do Esporte Olímpico e Paralímpico
Contato: http://goo.gl/ZJbcNK


5 comentários:

  1. Parabéns. Muito bem apresentada a discussão e boa sugestão para novos olhares.

    Minha contribuição. Me parece que as adaptações que ocorrem consideradas as lesões e os níveis de treinamento são muito bem analisadas em diferentes modelos citados no post. O controle de ações (tronco e MMSS também apresentam-se como componente dos testes apresentados, bem como o controle de prensão manual)Duas perguntas: . Há relações entre eles? Seria significativo? Penso neste item pois ao observar cadeirantes em pista de atletismo, os componentes das capacidades são determinantes a níveis mais macro mas pouco se sabe sobre habilidades e controle refinados em níveis mais micro.

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    1. Bem lembrado, quando possível contribua mais. Grande abraço

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  2. Caro amigo Anonimo, muito interessante o que você levanta!!! Para relacionar o que você sugeriu precisaríamos de um grande grupo de atletas com a mesma lesão e isso ainda não conseguimos e não vi em nenhum trabalho por ai, pode existir sim, mas não o vi em minhas buscas. A "turma" do controle motor e biomecânica poderia auxiliar bastante nisso, pois também desconheço trabalhos que falem da habilidade motora fina com cadeirantes em provas de atletismo, que seria uma informação a mais para melhorar a performance dos atletas. Obrigado pela contribuição e se quiser fazer contato estou no gersonslt@gmail.com :-)

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  3. Parabéns pelo texto Professor Gerson, como sempre ensinando muito.
    Os trabalhos com paraolímpicos, como o professor sabe melhor que eu, ainda são poucos no Brasil, ainda mais quando falamos em cadeirantes, porém trabalhos como esse que o professor fez nos cadeirantes são de importância ímpar, já que dessa forma nos mostra caminhos a seguir, a sugestão do amigo anônimo acima é muito pertinente, talvez a força de preensão manual aliada a biomecânica de MMSS e tronco seja um diferencial. Penso eu (empiricamente, já que não achei estudos sobre, que seria interessante fazê-lo,se possível) que a força gerada em MMSS aliada a força de preensão resulte em uma rotação maior na roda da cadeira, e talvez em uma economia de atividade (assim como a economia de corrida em corredores) e é bem descrita na literatura que a força de tronco gera uma estabilização melhor nas atividades esportivas também, acredito não ser diferente nesses atletas, além de uma força mais semelhante em ambos os membros, no caso superiores esquerdo e direito, gere um melhor controle de corrida, como sabemos, as grandes provas (paraolimpíadas, mundial, etc) são decididas no detalhe, tudo que venha para ajudar a avaliar é de muita importância.
    Espero ter ajudado com a minha opinião, e novamente, parabéns e obrigado pela grande matéria.

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    1. Oi Daniel, obrigado por expressar seu conhecimento por aqui. Quem sabe conseguimos aplicar tudo isso num futuro próximo heim!!! Grande abraço

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